"Estou a tanto tempo convosco..."
Cristo não é a expressão do amor de Deus, nem tampouco é um
símbolo de seu interesse no homem. Deus não falou através de Cristo, pois
Cristo nunca Lhe foi um instrumento. Pois Jesus, o Cristo, não foi e nem é uma metáfora
da divindade de Deus, Isaque sim. Isaque e seu pai são a humana metáfora do
amor de Deus. Por algum tempo Deus falou por metáforas, e também o próprio
Jesus. Mas Cristo...Cristo é Ele mesmo a literalidade de Deus no mundo. Mas foi
pra que entendêssemos que pra ele não foi uma decisão tão simples. A história
de Abraão nos fala da decisão de Deus em ser não apenas imagem e semelhança, mas
ser carne. Então quando era noite no getsemani ele lembrava de Isaque
dizendo... “Pai...” e então ele também chorou dizendo: “Pai...” E quando ele
disse “Pai...”, ele chorou em seu coração como menino. E então, quando eu estou
metido em problemas dos grandes...e quando eu digo “Pai...” tenho a certeza
absoluta de que ele me entende. Tenho certeza de que ele sabe o que é ser
filho, ele sabe o que é chorar de madrugada e ele sabe perfeitamente como me
ajudará.
A carnalidade de Cristo é não apenas a presença de um Deus
judeu, mas é a salvação que se estica de um braço ao outro para alcançar
ladrões, desses que habitam a escuridão de nossas ruas. Cristo é a literalidade
do verbo ressoando nas nossas praias, fazendo vibrar os tímpanos dos esquecidos.
A mão que de manhã cedo acordava seus discípulos. Cristo é sangue em lágrima, é
sangue descendo na madeira quente da cruz. Seu ombro estava ao alcance de seus
amigos e as feridas de seu corpo à disposição dos hesitantes. Sua respiração
ofegante podia ser ouvida durante uma longa caminhada e o seu silêncio
reclamava descanso. Sua casa era logo ali descendo a rua, virando a esquina a
direita. Não, Cristo não era uma metáfora, não é. Não, Cristo não era e nem é
uma energia como tanto se fala por aí. Porque uma energia é tão facilmente
controlada com um interruptor, tão facilmente conduzida por cabos. Mas quem
conhece a voz do Mestre sabe que de longe ele não se deixa domesticar. Ademais, o que há de mais fácil do que criar a sua própria energia? É muito conveniente para o homem falar de Deus como uma energia, já que assim ele pode usar tal energia para o propósito que está em seu coração. Pois então o que
uma energia sabe sobre vontade própria? Todavia, o
vento, sopra onde quer, você pode ouvir a sua voz, mas não pode dizer de onde
ele vem e nem para onde ele vai. Você não pode colocar o vento em uma garrafa. Cristo não é uma energia, porque uma energia precisa
ser positiva ou negativa, boa ou má, o meu Deus é poder de salvação. Como eu poderia
me envergonhar de dizer isso? Ele desceu as escadas da história na
noite de natal para nos curar e nos ensinar o caminho.
Caso Cristo fosse um instrumento de Deus, um enviado de Deus,
ele provavelmente tentaria convencer ao homem da existência do próprio Deus. Mas quando alguém perguntava por um Deus alhures, ele costumava responder: “Estou a
tanto tempo convosco...”. Sendo Deus, e Deus em carne e osso, não precisava
convencer a ninguém de sua própria existência. Deus não apenas deu a seu filho,
como difícil fora a Abraão, todavia mais difícil e maravilhoso ainda é entendermos que Cristo
é Deus dando a si mesmo. Cristo é Des sendo um de nós.Cristo era Deus dormindo no quarto ao lado. Era Deus visitando casamentos de amigos. Era o mestre amigo lavando os pés de seus queridos. O menino de José e
Maria crescendo com as outras crianças da vizinhança.
Sugestão de música:
Neemyas K.B.S., 31/08/2014 - São Luís, Maranhão.
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