O assobio


Quando a noite vira madrugada tudo na vizinhança entende. Tudo trata de se acomodar, cada coisa, cada alma caça jeito de encontrar cama, ninguém precisa mandar. O silêncio se encarrega de ninar. Lá de longe, no entanto, ouve-se um fino assobio. É o vigia do subúrbio. Vem subindo a ladeira indo de encontro ao escuro. Vem assobiando como se a sua melodia fosse luz. Sua canção é meiga, doce e aguda, mas o vigia, ele mesmo não assobia porque tem paz. Todos que têm alma sabem que no fundo no fundo ele assobia pra avisar que está por perto. Como quem não quer saber do mal. Como quem não quer ter que ver algo que demande seu compromisso. Ele assobia pra não ter que se surpreender com o oculto de tudo aquilo se esconde atrás da esquina. Ali embaixo, por detrás do muro o ladrão escuta, se encolhe e se cala. Ele entende. Ele pensa:
“Não queremos tais encontros. Respeito sua sirene, temos um contrato, o prejuízo fica pro dono”.
Alguém perguntará: como sabes disso tudo? Eu respondo: amigo, eu já fui vigia do mundo.

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Neemyas Dos Santos
Um pecador salvo pela graça de Deus, marido da Lívia, uma mulher cuja alma é semelhante a um carvalho. Psicólogo e Mestre em Psicologia. Atua como Psicólogo Clínico da Universidade Federal do Maranhão.